sexta-feira, 1 de maio de 2009

A Escolha de um Projeto de Avançado - parte I

OK. Você está terminando o último semestre do Ciclo Básico do Curso de Ciências Moleculares, e chegou a hora de escolher e preparar um Projeto para o Ciclo Avançado. E aí? Como é que se faz isso?

Vou tentar dar algumas dicas e percepções que surgiram de minha própria experiência. Mas lembrem-se que como sou uma pessoa que por acaso escolheu estudar Física e Matemática, fico horas trancado em meu próprio quarto lendo livros (livros mesmo, raramente artigos), ou calculando exaustivamente derivadas e integrais, imerso em uma sopa de letrinhas, na vã esperança de que essas coisas me ensinem algo sobre o mundo. Talvez um outro tipo de pessoa, que passe horas trancada em um laboratório, imersa em substâncias químicas, seres pequenininhos e equipamentos esquisitos, tenha percepções bem diferentes.

1 - Da escolha da Área do Conhecimento

Esta não deve ser uma dúvida muito grande, não é mesmo? Você já entrou em um curso uma vez, depois foi ao CM e teve vários professores de várias diferentes matérias. E também teve a oportunidade de assistir a vários seminários. Dá para ter uma boa idéia do que você gosta ou não gosta, ou do que acha interessante ou não.

Minha única dica aqui é: conheça a sua própria motivação, e leve em consideração as experiências obtidas nas atividades acima na hora de fazer a escolha. Mas se você estiver indeciso e se houver tempo, procure novas experiências. Há pesquisa em coisas que você talvez nem poderia imaginar.

2- Da escolha do Tema do Projeto

Hora de encarar os fatos. Durante todo o Básico, disseram a você o que você tinha de estudar. Agora você vai escolher o que estudar, e essa responsabilidade é assustadora.

Que tema posso escolher? A antiga coordenação do CM disse certa vez que "o céu é o limite", no sentido de que qualquer tema seria possível, desde que fosse algo sério, que exigisse o comprometimento do aluno. Isso entre certos limites me pareceu ser verdade, mas há algumas "limitações técnicas":

a) Existe, no Brasil, um professor que trabalhe com o que você quer estudar?

Você pode pensar na questão mais estranha para estudar, mas como tornar o estudo realidade? O orientador tem um papel razoavelmente importante nisso, então precisa ter alguém que trabalhe, o mais diretamente possível, com o que você quer estudar.

Talvez haja a possibilidade de co-orientação, mas aí você tem de se perguntar como vai conciliar os humores dos dois (ou mais) professores. No meu caso, apesar da minha dominante impressão interna de que precisava estudar algo da Física ou da Matemática, tinha grande interesse em certos tópicos de Filosofia. Cheguei a pensar na possibilidade de um projeto que contivesse as duas coisas. Mas interesse em Filosofia não é algo visto com bons olhos por um Físico sério, de carreira, então sempre tive apreensão em expor isso ao professor Físico. Porém, não tive problemas em falar sobre essa apreensão ao professor Filósofo, que entendia perfeitamente o meu problema. O que ele sugeriu foi que o professor Físico fosse o responsável pelo meu projeto, exclusivamente, e que no entanto não haveria problema algum de eu, em paralelo, conversar com ele quando quisesse, e de um indicar textos para o outro ler. Foi uma solução um tanto legal. No entanto, na prática, estudando avidamente Física e Matemática, em um semestre não tive tempo para ir falar com ele, e neste outro semestre ele está viajando.

b) Qual a relevância da coisa que você quer estudar?

No mundo ideal, o cientista estuda coisas só pelo prazer de aprender e conhecer. Mas existe um outro mundo, de mercado, que não pode ser desconsiderado. Seu projeto de IC talvez seja sua porta de entrada para o mundo acadêmico, então ele pode ter alguma importância quando você for vender a si mesmo. Portanto, o projeto abaixo, ainda que na minha cabeça pareça consistente, necessite de bons conhecimentos de Biologia e Estatística, e demande tempo, soa para mim como irrelevante:

"Você tem um prato de feijão na sua frente. Qual é a probabilidade de, nesse prato, haverem n grãos de feijão que vieram da mesma planta?"

c) Onde está o professor?

Tem gente fazendo IC com uma professora de Minas Gerais. O e-mail facilita muito hoje em dia, mas leve em consideração que mais cedo ou mais tarde você tem de conhecer o professor pessoalmente! E viagens demandam tempo (muito!) e dinheiro.

Na Física, o professor não tem muito o que fazer na IC; você troca umas idéias com ele, e ele basicamente vai te indicar coisas para estudar. E você é que tem que estudar. Mas tenha em mente que, no pior dos casos, é razoável que você converse com seu orientador (no mínimo) uma ou duas vezes por mês. Pra ser sincero, no worst case scenario você tem que contatá-lo uma vez no semestre para ele escrever a carta com o seu desempenho na IC e a sua nota nas disciplinas "Iniciação à Pesquisa". E todas as coisas que vão para a Comissão Coordenadora do CM, ou para órgãos de fomento como a Fapesp, o orientador deve assinar. Considere esse problema logístico, seja para conversar com o professor, seja para levar/trazer papéis burocráticos.

Digo isso pois meu orientador é do IFT, o Instituto de Física Teórica da UNESP, que ficava na Rua Pamplona, travessa da Av. Paulista, e ir da USP à Paulista, muitas vezes pegando trânsito, é muito chato e gasta muito tempo de estudo.


3 - Da Escolha do Professor Orientador

Este tópico está muito relacionado ao tópico 2 acima. Eu não tinha muito idéia do que estudar, então muitas coisas em Física e Matemática teriam me satisfeito. Eu então conversava com meus professores de Física e Matemática do Ciclo Básico.

De certa forma, o tema do meu projeto foi decidido quando conversei com um professor de Física muito querido pelos alunos do CM. Mandei um e-mail para ele, e ele respondeu algo como "estou impossibilitado de ir pra USP, então se você puder vir até minha casa, será melhor". Então, na sala de sua casa, conversamos eu, o professor, e seu grande cachorro.

Conversamos sobre várias coisas. Projeto, Física, mais projeto, professores possíveis, por que raios será que a partícula conhece Matemática para saber que tem que se mover daquele jeito?, será que devo estudar Física ou Matemática?, etc, passando até por Deus e seu projeto do universo.

Mas o fundamental foi: "Ah, mas se eu fosse começar a estudar um ramo da Física hoje, creio que seria Supercordas. Só tem dois caras bons em Supercordas no Brasil, o prof. X e o prof. Y, e se você não conseguir orientação com nenhum dos dois, então o melhor mesmo seria mudar de área".



A seguir: conversando com os professores X e Y.

E mais! o primeiro semestre do Ciclo Avançado, o quanto eu estava despreparado, a necessidade de adaptação a um novo ambiente, horários caóticos, etc. Não percam o próximo capítulo!

Um comentário:

  1. Oi Léo!
    Muito legal esse seu blog! Adorei saber de todas essas coisas que você NUNCA me contou!!! =D
    Beijo!

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